ESOPO – Para rapazes
Periandro vai-se
Descobre-se uma mesa e se irão assentando a ela Xanto, Énio e Periandro e os mais que puderem
XANTO
Vamo-nos assentando sem cerimónia, que nos banquetes não há mestres, nem discípulos. Mandei a Esopo que me pusesse nesta mesa a melhor cousa do mundo; veremos com que ele se desempenha.
PERIANDRO
Com alguma parvoíce. Se vossa mercê se fiou da sua eleição, ficaremos em jejum.
ÉNIO
Vamos nós comendo o que está na mesa, pelo sim, pelo não, que ele já tarda.
Sai Esopo com um prato
ESOPO
Eis aqui a melhor cousa do mundo.
XANTO
Descobre, e veremos.
ESOPO
É um prato de línguas.
XANTO
Um prato de línguas? Como? Pois isso é a melhor cousa do mundo?
ESOPO
Qual é a dúvida que a melhor cousa do mundo é a língua? Que cousa mais necessária no homem do que a língua? Sem língua, ninguém pode falar; sem falar, ninguém se entende. A língua é alma dos conceitos, é o corretor dos comércios, é a taramela das portas da boca, é prancha para comeres, é o esgravatador das gengives, é o zaragatoa dos beiços, o planeta do céu da boca, e o badalo da campainha. Com a língua se lambe um prato; com a língua faz o arrieiro a célebre cantiga, etc. Enfim, a língua do cão é o melhor remédio das chagas, e o linguado o melhor peixe dos mares. Não sei que mais queria dizer, que o tinha debaixo da língua.
XANTO
Nada nos dizes de novo, que bem sabemos que a língua é o oráculo do homem; porém, havemos só comer línguas?
ESOPO
Senhor, muitos comem do que falam.